Licrase
NOMENCLATURA DAS CORES NO CÃO DA SERRA DA ESTRELA
No estalão da raça Cão da Serra da Estrela “….só são
admitidas as pelagens fulva, lobeira a amarela, unicolores …”, sendo
em nossa opinião, manifestamente insuficiente para enquadrar toda a
gama de cores observáveis fenotipicamente, na raça em questão.
Em cinotécnia é sabido que existem dois tipos de melanina
fundamental na determinação da cor que os cães apresentam na sua
pelagem, quando adultos, sendo estas a Eumelanina e a Feomelanina. A
primeira, é um pigmento produzido na derme do cão, que ao
depositar-se no pelo em crescimento, vai dar origem a pelagens de
cor preta e/ou castanha. A segunda, é também um pigmento produzido
do mesmo modo, e que da mesma forma, isto é ao depositar-se no pelo
em crescimento vai dar origem a pelagens de cor fulva, nos seus
vários gradientes de intensidade de cor, que vão do amarelo
(genotipo mínimo) ao vermelho/caju (genotipo máximo), sendo o fulvo
uma cor intermédia das duas anteriormente mencionadas, a que
corresponde um amarelo dourado.
A cor branca, que é uma cor e não uma tara genética, como muitas
vezes os criadores tendem a pensar, manifesta-se quando há ausência
total dos pigmentos melanicos atrás referidos, em toda a pelagem do
cão ou apenas em determinadas zonas do mesmo.
O cão da Serra da Estrela apresenta uma pelagem do tipo composta
binária. É característico deste tipo de pelagens, que a sua
constituição seja feita por uma mistura de pelos diferentemente
coloridos, podendo apresentar o mesmo pelo duas cores distintas na
sua extensão, ou ainda, apresentarem zonas do corpo diferentemente
coloridas. Uma característica deste tipo de pelagens, e que se
verifica no Cão da Serra da Estrela, é a presença de máscara, onde
todos os pelos da mesma, em menor ou maior extensão, são pretos ou
seja Eumelanicos.
É extremamente interessante e fundamental para a nomenclatura das
cores nesta magnifica raça portuguesa, verificar que a transmissão
genética das feomelaninas e eumelaninas se faz de forma
independente, ou seja, que a informação genética para estes dois
tipos de melanina, se encontra em “locus” diferente, e muito
provavelmente até em pares de cromossomas distintos.
Com base no exposto no parágrafo anterior, podemos afirmar que as
pelagens do Cão Serra da Estrela, resultam da conjugação de uma
determinada Cor Base, tendo como o próprio nome refere origem nas
eumelaninas.
Relativamente ao Padrão de Distribuição das Eumelaninas, no Cão da
Serra da Estrela, observa-se a existência de dois padrões
essenciais: LOBEIRO e RAIADO.
No Lobeiro a pelagem é negra na superfície do manto, dando a
sensação visual de que o cão é negro, em virtude dos pelos do cão
serem pretos na sua extremidade. No entanto a base dos mesmos
apresenta uma determinada cor feomelanica.
O Raiado é caracterizado pela presença de zonas transversais
eumelanincas, ou seja pretas, sob um fundo feomelanico. Este tipo de
padrão é mais notório e facilmente visualizado, na variedade de pêlo
curto ou em cães de pelo comprido de tenra idade.
A Cor Base, que como já referido tem uma origem feomelanica,
apresenta-nos as cores fulvas, nos seus vários gradientes de
intensidade de cor. Verifica-se, no entanto, a existência de um
factor recessivo de diluição das feomelaninas, que se manifesta pelo
facto de ser recessivo, apenas quando em homozigotica, isto é quando
a informação genética para este caracter, é transmitida por ambos os
progenitores ao seu descendente, e confere aos pelos eumelanicos uma
cor “Branco sujo”. Este tipo de pelagem, cujo pelos fulvos foram
convertidos em branco sujo, pela acção do factor de diluição,
designa-se CINZA. Os cachorros desta cor aquando do nascimento são
negros num tom muito próximo do preto, vindo com o seu crescimento a
tornarem-se cada vez mais claros até atingirem o tom cinza.
Assim, quando na pelagem de um Cão da Serra da Estrela não há
qualquer manifestação de um padrão de distribuição de eumelaninas,
manifestando-se fenotípicamente apenas a cor base, resultarão cães
de cor FULVA ou CINZA, nos diferentes gradientes de intensidade de
cor.
Por outro lado, quando existe a manifestação fenotípica de um
determinado padrão eumelanina (Lobeiro ou Raiado) conjugado com as
cores base descritas, resultarão cães de pelagem LOBEIRO FULVO,
LOBEIRO CINZA, RAIADO FULVO e RAIADO CINZA, também nos seus vários
gradientes de intensidade de cor.
Em conclusão, torna-se urgente a admissão, no estalão da raça Cão da
Serra da Estrela das cores Fulvo, Cinza, Lobeiro Fulvo, Lobeiro
Cinza, Raiado Fulvo e Raiado Cinza, de modo a que em todo o meio
cinófílo, composto por Juizes, criadores, proprietários e amantes da
raça, se começe em uníssono, a designar as cores desta carismática
raça Portuguesa, pelos seus correctos nomes.
Edgar A. Mota Veiga Dolgner